“Escreva o que está em seu coração”.
Percebi, de imediato, que o nosso Presidente da Academia de Medicina da Bahia, DR. ANTONIO CARLOS VIEIRA LOPES, em seu reconhecido humanismo considera que a Academia por ele presidida não está limitada a um conjunto seleto de mentes brilhantes nas ciências médicas, mas, também, é um conjunto de corações irmanados no silêncio compartilhado de uma dor comum.
No amálgama de um pedido de coração para coração aceitei o encargo e deixei a voz do coração falar mais alto em nome dos corações que compõem a Academia de Medicina da Bahia, da qual o PROFESSOR ROBERTO SANTOS era Membro Emérito. Obrigada Presidente Antonio Carlos por conceder-me essa distinta honra.
A memória dos que desse mundo já partiram é sempre referida na exaltação do que construíram imortalizando seus nomes. PROFESSOR ROBERTO SANTOS também materializou muitas de suas ideias na construção de escolas, hospitais, unidades de ensino universitário, centros sociais urbanos, centros de convenções, etc. Obras materiais cujas sobrevivências estão vinculadas ao tempo em seu implacável rumo ao esquecimento.
Por outro lado, pessoas como PROFESSOR ROBERTO SANTOS conseguem deixar como memória não apenas o que fizeram, mas, principalmente, o que suas sábias palavras deixaram gravadas nas mentes e nos corações das pessoas.
Consciente do “poder das palavras” PROFESSOR ROBERTO SANTOS sabia como usá-las na medida correta de sua eficácia. Não se perdia em exageros no uso de adjetivos decorativos. Suas avaliações eram concisas e sinceras, traduzindo a alma de homem justo.
Preocupava-se em usar palavras de incentivo adequadas ao potencial de cada um dos mais jovens que dele se aproximava na busca por saberes científicos.
Ao lado do leito de pacientes no hospital de ensino universitário sabia sempre o nome da pessoa enferma sobre o leito e a ela sempre se dirigia antes de iniciar a avaliação do quatro clínico tendo médicos, residentes e estudantes ao entorno, ávidos por aprender seus ensinamentos.
Em seu laboratório de pesquisa no sexto andar do hospital de ensino desenvolvia, na década de cinquenta, pesquisas de tão alto nível que lograva publicação nas mais conceituadas revistas científicas internacionais. E também nesse espaço sagrado da ciência, acolhia de bom grado a visita de amigos tanto estudantes locais como pesquisadores de outros países.
Não obstante toda sua trajetória de extraordinário sucesso na ocupação de inúmeros cargos (reitor, governador, deputado federal, ministro da saúde, etc.), nenhuma posição conseguiu afetar sua simplicidade e sua disponibilidade no trato com os amigos.
Concluo relembrando as inúmeras vezes que conversei com o PROFESSOR ROBERTO SANTOS nas mais diversas fases de sua vida ocupando posições de destaque ou após sua aposentadoria. Sua conversa era sempre construtiva e sadia, sempre em nível acolhedor, nunca maculada por palavras depreciativas. O avançar da idade não lhe apagou o olhar para o futuro... um futuro não mais centrado em sua pessoa, mas voltado para manter vivo o pensamento que constrói, que ajuda, que edifica, que tem a força da ética, da honradez, da sinceridade, de tudo que enfim traduz um cidadão do bem.
Finalmente, tudo que aqui registrei o fiz em nome da Academia de Medicina da Bahia nesse momento de profunda tristeza por pela perda um de seus ilustres Membros Eméritos.
Eliane Azevedo
Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia.