Ainda como parte das comemorações pelos 60 anos da Academia de Medicina da Bahia, foi realizado pela aniversariante e pela ABM, na última sexta (27.08), no Bahia Othon Palace Hotel, o seminário “Consequências da abertura de novos cursos de Medicina no Brasil”. A abertura ficou a cargo do presidente da entidade, Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes, e a moderação com o acadêmico Roberto Badaró. O evento foi aberto ao público.
O seminário foi divido em exposições ao longo da manhã. Teve início com a Academia de Medicina da Bahia, através do acadêmico Dr. Raymundo Paraná, que, entre outros pontos, abordou a importância da qualidade da formação, tecendo um comparativo entre qualidade e quantidade. Em seguida, falando sobre a “diretoria de desenvolvimento da educação em saúde”, esteve Dr. Evandro Guimarães de Souza, avaliador do Ministério da Educação e Cultura, que mostrou números das escolas médicas no País, quantidade de ingressantes, vagas para ingressantes, etc. Representando o magnífico Reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Prof. Fernando Adan, que é diretor da Faculdade de Medicina da UFBA, contou falou sobre a história e situação das escolas médicas na Bahia. “Houve um aumento exponencial”, destacou.
O secretário-geral do Conselho Federal de Medicina (CFM), Dr. Henrique Batista, mostrou que a profissão de médico é a que desperta maior confiança entre os brasileiros, segundo pesquisa feita pelo CFM e Datafolha em 2016. Falou ainda sobre o aumento acelerado dos cursos e vagas dos cursos de Medicina e os efeitos disso na qualidade da educação médica. Ele mostrou que, em quatro anos e meio, foi aberto o mesmo número de escolas de quase dois séculos e apresentou a radiografia das escolas médicas no Brasil: a mensalidade mais baixa gira em torno de R$3 mil e a mais alta beira os R$13 mil.
A visão da Associação Medica Brasileira (AMB) foi demonstrada pelo 1° Vice-presidente da entidade, Dr. Diogo Sampaio. Ele também mostrou que houve crescimento exponencial dos cursos e do número de matrículas. “A manutenção de escolas ruins tem como efeito a manutenção da formação ruim e a liberação ao exercício de médicos de péssima qualidade”, ressaltou. Sampaio destacou a importância do Exame Nacional de Proficiência em Medicina, da Carreira Médica de Estado e da Frente Parlamentar da Medicina.
Feita as exposições, o moderador Dr. Roberto Badaró teceu um riquíssimo resumo das apresentações de cada um dos expositores e abriu espaço para comentários acerca do tema. A primeira a comentar foi a presidente do Conselho Federal de Medicina (CREMEB-BA), Dra. Teresa Maltez, que parabenizou a iniciativa. “As apresentações foram abrangentes e trazem o que tem nos preocupado na condição de Conselho: a falta de estrutura de alguns cursos, o endividamento dos egressos das Faculdades, médicos sobrecarregados com inúmeros vínculos de trabalho e aumento do número de acidentes de trânsito envolvendo médicos”, pontuou.
Já o presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), Dr. Robson Moura, afirmou que os médicos se opõem à forma irresponsável e indiscriminada de criação dos cursos de Medicina no Brasil. “Eu defendo a minha saúde, da minha família e do meu povo. Os gestores públicos não serão atendidos por estes médicos, mas pela elite da Medicina. A grande discussão aqui é a qualidade”, destacou. Ele classificou ainda como “frouxo” o edital do MEC. “A AMB fez relatórios apontando as lacunas, mas todas essas faculdades avaliadas irão abrir. Esses médicos mal formados estão em todos os lugares”. E salientou ainda a importância do Exame de Proficiência Médica. “Parabenizo a iniciativa. Quem está aqui dedicou seu tempo à saúde da população”, finalizou.
A diretora da Escola Bahiana de Medicina, Dra. Maria Luisa Soliani, representando a Associação Brasileira de Educação Médica, afirmou que a ABEM sempre se posicionou em busca de qualidade. “Ela teve papel importante em todos os momentos e tem se feito presente nas discussões. Há uma explosão de escolas médicas e essa abertura sempre esteve ligada a influências políticas e econômicas”. Soliani reforçou que o crescimento tem sido exponencial. “Teria sido melhor se as escolas se localizassem onde realmente são necessárias, influenciando o crescimento econômico e social das regiões. Temos que nos questionar o seguinte: dentro do nosso modelo de saúde, quantos médicos precisamos?”, indagou.
Ao final do evento, representantes de diretórios acadêmicos também comentaram o debate. Com as discussões que foram tecidas durante o evento, uma carta está sendo redigida e será submetida à aprovação das assembleias, para posterior publicação dentro dos próximos 15 dias.