O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), em respeito aos seus 32 mil jurisdicionados, e com o apoio da Associação Bahiana de Medicina (ABM) e do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), manifesta publicamente a sua repulsa em relação à matéria “Erro médico – ele é mais comum do que você pensa”, publicada na revista Superinteressante, edição nº 391, de julho de 2018. A publicação, de forma maliciosa e sensacionalista, tenta responsabilizar apenas a categoria por problemas que vão muito além do atendimento médico, ou seja, por falhas da assistência à saúde.
Em tempos onde a população brasileira sofre nas filas das unidades de saúde é inadmissível que formadores de opinião não tenham a responsabilidade e o cuidado necessários de abordar assuntos tão complexos como é a assistência à saúde. Os médicos, assim como os pacientes, também são vítimas do processo, seja quando não há um local adequado para atendê-los, quando faltam leitos de UTI e o médico precisa decidir quem terá prioridade e mais chances de sobreviver. Diferentemente do citado na matéria, o acesso a “ferramentas tão avançadas” é uma realidade distante dos médicos e da população.
Como se não bastasse a falta de infraestrutura adequada, os médicos, que estão na linha de frente do atendimento, costumam ser penalizados também por problemas que atingem os profissionais e processos envolvidos na assistência ao paciente. Reconhecendo isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde focam as ações para garantir a segurança do paciente em medidas que envolvem desde a equipe multiprofissional às condições de trabalho e rotinas assistenciais. Nenhuma destas medidas depende exclusivamente do médico.
Além disso, a matéria faz um desserviço à população quando utiliza dados que são facilmente questionáveis, a exemplo da OMS afirmar que “um em cada 300 pacientes morre por consequência de erro médico”. Sabemos que a maioria das unidades de saúde no Brasil não dispõe de uma comissão de revisão de óbito. Na Bahia, apesar das promessas do governo estadual, ainda não há um Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) ativo e a maioria das mortes acabam não tendo comprovação da causa.
Em tempo, o Cremeb ratifica que está à disposição da sociedade para apurar supostas denúncias de infrações éticas cometidas por médicos. A instituição também se prontifica a contribuir com a imprensa para evitar que equívocos sejam cometidos por falta de informação ou interpretações erradas. Quanto à matéria sensacionalista, só temos a protestar, uma vez que, da forma com que o assunto foi abordado, tende a aumentar a sensação de insegurança dos pacientes e não aponta os verdadeiros problemas e responsáveis pelas falhas nos cuidados da saúde da população.