O Julho Amarelo
No próximo mês de Julho estaremos lançando a campanha alusiva ao Julho Amarelo.
Trata-se do mês dedicado à democratização das informações sobre as Hepatites Virais.
As Hepatites Virais são grave problema de saúde publica em todo o Mundo, principalmente as hepatites B e C que podem cronificar e permanecer no organismo humano por décadas causando sérios danos ao fígado de forma silenciosa.
A hepatite B infecta hoje 300 milhões de habitantes no planeta e dentre esses cerca de 1 milhão de brasileiros. Tem uma relação muito próxima com o câncer de fígado. A sua proposta terapêutica de controle da infecção viral, todavia há estudos em desenvolvimento para novas drogas que elimina o vírus do organismo. Acreditamos que dentro de 5 anos a hepatite C sofrerá uma revolução em termos de tratamento, permitindo assim que se vislumbre, inclusive, a sua erradicação. A vacina contra a hepatite B está amplamente disponível na rede publica, todavia a sua cobertura vacinal ainda é deficiente em muitos países incluindo o Brasil. A vacina é segura e previne a doença como também previne o sexo seguro e o ato de evitar o compartilhamento de instrumentos perfurocortantes.
A hepatite C é outra grave endemia mundial. Atinge cerca de 150 a 130 milhões do Planeta, 1,5 milhões no Brasil. A hepatite C foi muito transmitida na década de 60, 70, 80 e inicio da década de 90 pelo compartilhamento de instrumentos perfurocortantes, transfusão sanguínea como também por transmissão nos hospitais, uma vez que não havia regulamentação para uso de material descartável naquela época. Outras formas de transmissão como tratamento dentário com profissional que não seguia as regras de segurança ou por tatuagem também contribuíram para o grande numero de casos que temos no Brasil.
No Brasil, particularmente no Nordeste, o uso indiscriminado de Complexos Vitamínicos, Glicose e medicamentos do tipo Glucoenergan por via venosa com seringas não descartáveis foi responsável pela maior parte das contaminações entre homens. Estes, hoje tem o seu diagnostico na faixa etária superior a 50 anos, fazendo com que a hepatite C se associe a diversas comorbidades tais como Diabete Mellitus e Obesidade as quais fazem a doença progredir mais rapidamente.
Deste modo, não é por outro motivo que a hepatite C é responsável por metade das indicações de transplante de fígado no País, como também é hoje responsável por 70% dos casos de câncer de fígado.
A boa noticia é que o seu tratamento mudou imensamente nos últimos anos. Hoje os medicamentos usados por via oral são seguros, praticamente isento de efeitos adversos e com taxa de cura que varia de 90 a 95%.
O tratamento está disponível na rede publica para pacientes que tem doenças mais graves e para alguns grupos de pacientes que apresentam manifestações associadas a infecção pelo vírus da hepatite C. Neste quesito temos muito a comemorar, pois o Brasil hoje consegue tratar vinte e seis mil pacientes por ano, contudo ainda temos um passivo de mais de hum milhão de pacientes para diagnosticarmos. Esse é o grande desafio.
Não é por outro motivo que o Julho Amarelo é muito importante para fazer a informação chegar a população como também aos diversos profissionais de saúde. Só o rastreamento obrigatório da doença em todos os indivíduos acima de 50 anos mudará o cenário brasileiro no que se refere ao subdiagnostico que tanto nos incomoda.
Raymundo Paraná
Professor titular de Gastro-Hepatologia da UFBA
Livre-Docente em Hepatologia Clinica pela UFBA
Especialista em Hepatologia pela SBH
CRM 8870