O auditório da Associação Bahiana de Medicina ficou lotado na noite da sexta-feira (07.04), durante a palestra “Limites e respeito à infância: uma combinação saudável e eficiente”, ministrada pela psicóloga e psicoterapeuta Tatiana Pedreira. O evento foi aberto ao público.
“Educar de forma gentil, respeitosa e ao mesmo tempo assertiva é algo fundamental para a criação de um vínculo seguro e saudável para a criança e para o adulto que ela um dia será. Isso exclui qualquer forma de violência ou lógica punitiva, que são, na verdade, fatores de risco à saúde total de um ser em formação”, explicou Tatiana.
A psicóloga, psicoterapeuta de abordagem humanista-existencial, pesquisadora e difusora da educação não-punitiva e da disciplina positiva diz que existem inúmeras alternativas aos castigos, gritos e às ameaças normalizadas pela educação tradicional. “São alternativas mais salutares e efetivas para que, de fato, haja educação, não apenas limites; para que haja uma formação ampla, um cuidado integral e uma relação de amor e respeito mútuo entre adultos e crianças, entre adultez e infância”, ressalta.
Durante a palestra, ela destacou pontos importantes como: levar a criança à reflexão: "Filho, vamos pensar no que aconteceu"; garantir à criança respeito e amor incondicionais, ou seja, mesmo quando ela faz algo que não agrada o adulto (“Vamos buscar uma outra forma de fazer isso, meu amor?").
“Isso abre portas para a revisão do que ocorreu, sem que a autoestima da criança seja atingida ou se organize em torno de sucesso ou aprovação constantes (obviamente insustentável)”, explicou.
Outro ponto destacado por ela é educar essencialmente pelo exemplo: "Ensino meu filho a ser respeitoso, essencialmente, respeitando-o, respeitando as normas de trânsito ou de civilidade, etc; Respeito se ensina respeitando!", completa Tatiana.
Também foram abordados outros pontos: importância de buscar soluções cooperativas, em vez de disputar poder com a criança, gerar força e poder a todos envolvidos na missão; a aplicação de ameaças e castigos que só geram contenção provisória do comportamento. “Enquanto dura o medo. Aprendizado não existe nestas circunstâncias. O único aprendizado que permanece, após a punição, é aquele ligado à impotência, à humilhação, à burla: ‘Como faço para não ser pego da próxima vez?’”.
Tatiana explicou ainda que que muitas crianças aprendem, com a punição e o desrespeito que muitas vezes sofrem ao errar, que é assim que merecem se tratar quando erram (se punindo e se desrespeitando também). "Assim tendem a ter dificuldade para se arriscar, se expor, aprender coisas novas (onde a segurança dos acertos é reduzida)", diz.
A exposição mostrou também que muitos indivíduos que cresceram em lares autoritários tendem a tornar-se adolescentes e adultos com dificuldades na relação com figuras de autoridade (pais, professores, representantes da lei), seja tornando-se opositores sistemáticos (chegando inclusive à delinquência), seja tornando-se hiper-submissos, com dificuldades para defender seus direitos e sua dignidade. Outro efeito previsível da educação pouco respeitosa é o envolvimento com bullying. "Seja no papel do agressor (replicando o modelo parental), ou no papel da vítima (que, afinal, é o meu lugar no mundo’, pensam as crianças que são constantemente agredidas física ou verbalmente em casa)", diz Tatiana.
Para quem tem curiosidade sobre a abordagem, Tatiana sugere como chave de pesquisa "disciplina positiva". Existe vasto material na Internet.
A especialista irá promover, em 06/05/2017, um encontro teórico-vivencial com pais e educadores para tratar do tema "limites e respeito à infância". Inscrições e informações pelo atpedreira@gmail.com e pelos telefones 3331-6655 e 99209-7650.