“A mortalidade relacionada ao tabagismo aumentou. Hoje sabemos que novas doenças estão relacionadas ao fumo como doenças renais, isquemia do intestino, hipertensão, dentre muitas outras, pois os cigarros modernos possuem muito mais substâncias químicas do que os de antigamente, criando dependência ainda maior e tornando ainda mais difícil o tratamento do vício”. O diagnóstico e o alerta são do médico pneumologista Guilhardo Fontes Ribeiro, coordenador do Serviço de Pneumologia do Hospital Santa Izabel, que reitera a necessidade de ampliar cada vez mais as ações contra o tabagismo aproveitando o Dia Nacional de Combate ao Fumo, na última sexta-feira, 29 de agosto.
Para o especialista – um crítico da indústria tabagista a quem credita inúmeros problemas de saúde da população –, é preciso que a sociedade em geral tenha em mente que o cigarro tem venda legal, mas é potencialmente mortal. Um dado de muita preocupação que menciona é o fato de que filhos de mães fumantes têm tendência duas a três vezes maior de desenvolver doenças respiratórias crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, e maior predisposição a infecções respiratórias. “As filhas de mães fumantes desenvolvem alterações genéticas pelo tabagismo intrauterino e mesmo que elas não sejam fumantes seus filhos poderão ter alterações pulmonares frequentes. Ou seja, mães que fumam, prejudicam muitos os seus filhos e até os seus netos”.
Segundo o pneumologista, apesar de todos os alertas, ainda hoje 20% das grávidas do mundo fumam durante a gravidez esquecendo possíveis complicações como a prematuridade e a morte neonatal, entre outras consequências sempre bem divulgadas. O Brasil tem sido referência no controle do tabagismo no mundo, adotando dentre outras medidas a proibição do fumo em ambientes fechados, o controle rigoroso da propaganda, a introdução de contrapropaganda nas carteiras de cigarro que contêm avisos cada vez maiores dos malefícios do produto e outras ações de esclarecimento à população. “Esse esforço contribuiu para reduzir o tabagismo no Brasil de 34,8% em 1989 para 11,3% em 2013”, diz.
O médico explica, entretanto, que apesar dos ganhos nesse combate, a indústria do tabaco continua investindo em conquistar novos fumantes com variadas estratégias: “Tem os cigarros de gosto variados e aromas diferentes que podem ser vistos e vendidos, inclusive nas proximidades de escolas, e os cigarros eletrônicos, que vêm substituindo os velhos cigarros para fugir da fiscalização já que no Brasil o cigarro eletrônico é proibido pela Anvisa”, alerta ele. “Mesmo assim, não para de crescer o número de marcas de cigarros eletrônicos que têm concentrações variadas de nicotina e também de outras substâncias nocivas, algumas cancerígenas, já identificadas, e que fazem mal tanto aos que fumam como aos que estão próximos”.
“Devemos enfatizar, sobretudo para as novas gerações, as inúmeras vantagens em não fumar”, recomenda o especialista, destacando entre outros benefícios a melhoria na expectativa de vida e o retardo no envelhecimento. “Quem deixa o cigarro melhora o hálito, o paladar, o aspecto da pele, o desempenho sexual e evita um grande número de doenças e tumores malignos, principalmente do pulmão, além de se tornar uma referência positiva para amigos e familiares, incentivando outras pessoas a também tentar deixar de fumar”, garante.