A primeira vacina contra a malária a chegar aos ensaios clínicos finais teve seus resultados revelados por um estudo publicado na revista “The Lancet” nesta sexta, véspera do Dia Mundial da Malária. Os dados não são muito animadores, o medicamento oferece proteção apenas parcial contra a doença que anualmente mata mais de 500 mil crianças com menos de 5 anos no mundo. Mas especialistas acham que mesmo um “sucesso parcial” pode ser considerado um marco no combate à malária.
A vacina vem sendo desenvolvida por 20 anos, a custo que já passa de US$ 500 milhões (R$ 1,5 bilhão). Os resultados das pesquisas desenvolvidas mostram que a vacina funciona melhor em crianças a partir de cinco meses de idade do que em bebês mais novos. Isto é um problema porque, desta forma, a vacinação não poderá ser encaixada junto com a imunização contra a difteria, o tetano e coqueluche. Além disso, a proteção oferecida pela vacina enfraquece com o tempo, o que significa que um reforço posterior será necessário.
Durante os testes, cerca de 16 mil crianças em sete países africanos receberam três doses da vacina mais o reforço. O grupo que recebeu as três doses com idades de cinco a 17 meses apresentou 36% a menos de casos de malária quando tinham 4 anos de idade, em comparação com crianças que não foram imunizadas. No primeiro ano após a vacina, a redução havia sido de 50%. As três injeções não foram o bastante para proteger contra a malária mais grave, mas o reforço resultou em 32% menos casos severos
Entre os bebês com menos de cinco meses que receberam as três doses, verificou-se uma redução de 26% no número de casos nos três anos seguintes, mas essas crianças não ficaram protegidas contra a malária mais grave.
Segundo a equipe à frente da pesquisa, a vacina pode reduzir os casos de malária em cerca de 30% na África. A Agência Europeia de Medicamentos vai analisar os dados e, se forem satisfatórios, a vacina pode ser licenciada. Nesse cenário, a Organização Mundial de Saúde poderia, então, recomendar seu uso em outubro deste ano.
Brian Greenwood, autor do estudo e professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, disse que estava “um pouco decepcionado” com os resultados dos ensaios clínicos. “Nunca chegaríamos ao sucesso visto em vacinas contra o sarampo, com 97% de eficácia, mas esperava resultados mais animadores”, diz o especialista à frente das vacinações, que aconteceram em Burkina Faso, Gabão, Gana, Quênia, Malaui, Moçambique e Tanzânia.
O pesquisador explica que o parasita da malária tem um ciclo de vida complicado. Em mais de 50 mil anos de existência, ele aprendeu a “iludir” o sistema imunológico.
Atualmente, não há vacina licenciada contra a malária. Cerca de 1.300 crianças morrem por dia na África subsaariana devido à doença. A RTS, S/AS01 é a primeira vacina contra a malária a chegar ensaios avançados e mostrar qualquer sinal de trabalho em crianças pequenas. Os cientistas se dizem satisfeitos por chegar a esta fase no desenvolvimento de uma vacina, mas ainda há um longo caminho a percorrer.