SÃO PAULO - Médicos brasileiros dizem que a presidente Dilma Rousseff fez uma afronta à classe ao afirmar que os profissionais cubanos são mais requisitados pelos prefeitos por serem mais atenciosos que os médicos formados no Brasil. Representantes de entidades de classe alegam que o objetivo de Dilma com a declaração é apenas defender politicamente o programa “Mais Médicos”.
— Falar uma coisa dessas é uma afronta à classe médica — afirmou o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso. — Nós, médicos, trabalhamos com evidências científicas. Gostaria de saber qual foi o fundamento usado pela presidente para dizer que os médicos cubanos são mais atenciosos. Quando vamos a um médico, não queremos um afago. Ele precisa ouvir nossos sintomas e chegar a um diagnóstico eficaz. E posso dizer que os médicos brasileiros são atenciosos, educados e muito competentes. E isso é um fato reconhecido internacionalmente.
Nem todos os prefeitos concordam que os médicos cubanos são mais atenciosos, na opinião do presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Geraldo Ferreira. Segundo ele, em cidades do interior do Rio Grande do Norte, seu estado, a população tem reclamado que os profissionais estrangeiros não atendem fora do horário que está combinado em seus contratos.
— Em cidades pequenas, é comum a pessoa ir até a casa do médico no caso de uma emergência. Não quero falar especificamente dos cubanos, eles estão cumprindo um acordo, mas o que ouço dos prefeitos com quem conversei é que os brasileiros acabam dando um jeito e são mais atenciosos nesse aspecto — disse Ferreira.
Segundo o presidente da Fenam, os prefeitos agradecem a chegada dos médicos estrangeiros porque o custo fica com o governo federal.
— Um dos grandes problemas que essas cidades enfrentam é o repasse do governo federal para as equipes de médico da família. É insuficiente. Então por que os prefeitos gostam do “Mais Médicos”? Porque o governo federal está pagando.
O presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Florisval Meinão, classificou a declaração da presidente Dilma como “infeliz”. De acordo com ele, a frase faz parte de estratégia de “demonizar médicos brasileiros para justificar a vinda de cubanos ao país”.
— Repudio essa declaração. Para mim, esse programa é puramente eleitoreiro. É jogar uma cortina de fumaça nos reais problemas da saúde pública. O Brasil é um dos país que menos investe na saúde. Além disso, faz uma gestão ruim desses recursos. Falar uma coisa dessas da classe médica é lamentável.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, ao fazer o comentário a presidente Dilma está “achincalhando com os médicos brasileiros” e demonstrando “total desrespeito com a classe médica”.
— Entendo que um prefeito fale bem do “Mais Médicos”. Ele não têm despesa com o programa e atende seu objetivo político de colocar um sujeiro com jaleco branco para atender à população. Mas questionamos a qualidade desse médico. E uma presidente reproduzir isso como uma vantagem do seu governo é um absurdo.
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