O primeiro Banco de Ossos acima do Rio de Janeiro acaba de ser inaugurado em Recife. O banco pertence ao Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira (IMIP) e está sob responsabilidade de Cláudio de Oliveira Marques. O ortopedista já está fazendo captação de ossos de pacientes vivos, isto é, preservando para enxerto futuro a cabeça femoral descartada de operados que tem essa parte do osso retirada durante uma cirurgia.
Cláudio Marques, que integra a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), explica que o fornecimento de ossos que são estocados sob congelamento é importante para determinados procedimentos, como a revisão de prótese de quadril. “Após vários anos de uso uma prótese precisa ser substituída e para procedimentos que envolvem tumores dos ossos, embora o leigo esteja mais acostumado a ouvir falar em enxerto de osso para procedimentos odontológicos, que precedem o implante dentário, a existência do banco de ossos é essencial”, conclui.
O novo banco foi montado numa instituição particular que, por ser filantrópica, atende apenas a pacientes do SUS. O investimento, de cerca de R$ 1,5 milhão, foi complementado pelo Ministério da Saúde e pela Federação Nacional da Indústria, que bancaram inclusive a importação de alguns equipamentos e todo o apoio técnico foi dado pela equipe do Banco de Ossos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
“A inauguração do novo banco é importante”, diz o médico, pois até então todos os seis bancos operando no Brasil se concentravam no Centro-Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. “Quando um paciente do Norte ou do Nordeste precisava de material de um banco de ossos, era encaminhado para o Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia do Rio de Janeiro, o INTO, no qual entretanto há fila de espera para esse tipo de atendimento”.
No Recife só existem dois hospitais credenciados a usarem banco de ossos, o próprio IMIP e o Hospital Otávio de Freitas, mas a médio prazo, quando aumentar a captação de ossos, o novo banco deverá ter condições de atender a pedidos de hospitais de outros Estados da região. Para isso, porém, os ortopedistas estão pedindo o apoio da Secretaria da Saúde de Recife para uma campanha que leve o público, já estimulado a fazer doação de córnea, fígado, rim e coração de cadáveres, a doar também os ossos.
“Com essa campanha pretendemos explicar que só captamos ossos dos membros inferiores e que são substituídos por outros de PVC, de tal maneira que o morto continua com uma aparência normal”, comenta o ortopedista, que insiste no fato de que a doação de ossos pode ser vital para um paciente que, com ela, voltará a ter pleno funcionamento dos membros inferiores e terá condições de trabalhar, provendo seu sustento, em vez de se tornar um inválido cujo sustento caberia à sociedade.